Suffocation - "... Of The Dark Light" (2017)

Nuclear Blast Records

Mundo Metal [ Lançamento ]



A espera para os fãs foi um tanto grande, pois já faz quatro anos desde o último lançamento - o excelente “Pinnacle Of The Bedlam” (2013) - mas terminou este ano e o público se empolgou com a notícia divulgada: o Suffocation estava retornando com uma nova pedra filosofal do décimo oitavo portão do inferno, "... Of The Dark Light". Com quase 30 anos de estrada, os novaiorquinos de Long Island surgem com mais um petardo para os amantes da música extrema, repleto de técnica e riffs que conseguem se encaixar de forma magistral. Desde seu início no longínquo ano de 1989, a horda americana nunca descansou e sempre nos presenteou com várias marretadas de qualidade, sem perder qualquer noção de identidade e capacidade musical e de inspiração para compor. E, mais uma vez, eles estão de volta com um disco que vai ampliar a coleção dos famintos por Metal extremo e Death Metal em geral. Sua fusão de técnica, Groove e pura brutalidade implacável foram inspiradoras para muitas outras bandas, o que ampliou e diversificou o estilo; "Effigy Of The Forgotten" (1991) esta aí até hoje para provar isso.

Como toda grande banda, o Suffocation também detém uma lista de integrantes que passaram por ela com alguns retornos e pausas. Mesmo assim, o conjunto jamais perdeu seu rumo e continuou a mostrar qualidade álbum após álbum, com uns seguindo mais a linha tradicional do estilo e outros explorando mais o lado Groove da coisa, mas sempre mantendo sua real forma de tocar e sem desapontar seus fãs. Obviamente, porém, seus clássicos continuam intactos e dificilmente serão superados ou  igualados.

Desde sua reformulação em meados de 2002, o Suffocation voltou a seguir seu caminho destilando todo seu arsenal renovado e com muito mais vigor e vontade de destruir caixas de som e tímpanos sensíveis ao meio. Sim, eles estavam de volta e seguiram até os dias de hoje, quando em 2008 assinaram com a Nuclear Blast Records e continuaram seu caminho pelas labaredas infernais da música insana e voraz. Em 2012, o Suffocation lançou seu penúltimo álbum, "Pinnacle Of Bedlam" - o qual marcou o retorno do baterista Dave Culross, que havia tocado no EP “Despise the Sun” (1998), mas que deixou novamente o grupo após 2014. Apesar do curto tempo em sua nova passagem pela banda, contudo, Culross deixou novamente uma marca bastante positiva, contribuindo para a qualidade tradicional das baquetas sufocadoras de vias aéreas frágeis.


Agora, então, contando com o baterista Eric Morotti (Killitorous, ex-Epocholypse, Blind Witness), lançam o tão aguardado disco em que o guitarrista e líder da banda, Terrance Hoobs, chegou a comentar que era um momento muito aguardado por eles. Durante os últimos quatro anos o Suffocation havia se concentrado em compor este disco e não poderiam estar mais orgulhosos, e que de fato se tratava do disco mais brutal dos americanos até então. "...Of The Dark Light" foi produzido pela própria banda sob a supervisão de Joe Cincotta (Obituary) e gravado no Full Force Studios. A mixagem e masterização ficaram por conta do renomado produtor/engenheiro de som Chris "Zeuss" Harris (Hatebreed, Arsis, Suicide Silence), enquanto a arte da capa foi criada por Colin Marks (Origin, Fleshgod Apocalypse, Kataklysm).

Com uma ilustração bastante enobrecida, a expectativa que se fez presente foi a de que seria um disco arrebatador de tropas invasoras sem prévio aviso. Eis que a vitrola é ligada e...que susto! O volume estava alto e não havia percebido antes! Eu até diria para tirarem as crianças da sala, mas as crianças de hoje estão muito frescurentas e precisam aprender o que é bom para se ouvir, então é melhor deixar. Estou falando da faixa de abertura, “Clarity Through Deprivation”, que já inicia espancando os falantes sem dó e nenhuma piedade. Os cavernosos riffs seguem de vento em popa tombando embarcações com seu maremoto sonoro com várias quebras e mudanças de ritmo formidáveis. Os vocais guturais de Frank Mullen estão perfeitos, trazendo toda a agressividade que a vertente pede. Os blast beats são realmente intensos e mantêm a bateria completamente apocalíptica com diversas mudanças de andamento; características imprescindíveis em um som técnico e qualificado. Antecedendo o solo há uma exibição musical de primeira linha junto aos breakdowns, o que se segue até o final. Em seguida já avistamos outro míssil explodindo a caixa, onde Eric Morotti inicia causando fendas no fundo do mar com seus pedais duplos super potentes: o nome da dona dessa extinção em massa é “The Warmth Within the Dark”, e vemos que o tempo passa rápido conforme os riffs se encaixam hipnotizando o ouvinte, o fazendo querer derrubar sua própria casa apenas com as mãos! Ilusão isso? Não quando se ouve Suffocation! Há aqui uma sequência mais cadenciada, onde peso e técnica seguem intactos, mostrando que esse realmente é um dos discos mais pesados dos caras.

Passamos para a terceira faixa, “Your Last Breaths”, e o que vemos é uma quebra de ritmos ainda maior, como se a dona morte saísse por aí girando sua foice como um bastão de Kung Fu açoitando qualquer um sem saber de quem se trata. Destaque aqui para as corridas incitantes das guitarras com solos dignos de entoarem no próprio vale das sombras.  Esta é uma música mais cadenciada e impositora se comparada com as anteriores. E sem muito tempo para respirar, surge ecoando das profundezas do inferno “Return to the Abyss”, faixa que recebeu um lyric video para a divulgação do disco (o que posso dizer é que escolheram a faixa certa como divulgação). “Nem todos nós nascemos iguais predeterminados a subir ou cair” é apenas o início do que se encontra aqui. Quem ama as variações do Death Metal com certeza irá gostar desta faixa,  repleta de riffs variados e solos ultra velozes de Terrance Hobbs e Charles Errigo, como se se o cramunhão estivesse dirigindo uma carreta sem freio e na contramão.


A ideia é não deixar o barulho infernal parar, então não é à toa que “The Violation” começa devastando tudo e jogando seu vizinho chato para outro quarteirão, tamanha a porradaria certeira e nocauteadora de ouvidos sensíveis e desacostumados com os urros vindos do além. Trata-se de uma faixa incineradora de lares ortodoxos com todas as nuances pretendidas em um som típico, enquanto o baixo de Derek Boyer segue mantendo o alicerce firme. Sem descansar, já temos em seguida a faixa título, outra música de destaque que lembra o som de duas bandas: Kreator e Immolation. A primeira mais por conta do nome lembrar o clássico EP ‘Out of the Dark...Into the Light’ (1988), e a segunda por seu andamento e destaque maior para o baixo - lúgubre e bastante denso - de Boyer.

“Some Things Should Be Left Alone” é a faixa seguinte e logo de cara mostra que “algumas coisas devem ser deixadas sozinhas”, ou seja, a pancadaria está à solta, sozinha, desenfreada, e continua mantendo o padrão de qualidade do disco. A penúltima canção se inicia e mal percebemos que o álbum está no fim, com um ar de “fim dos dias” exalado pelos falantes até aqui. “Caught Between Two Worlds” chega quebrando pescoços e dorsais aos montes, sem trégua. Como um elefante desgarrado, os instrumentos vão deixando seu rastro de putrefação e escuridão com riffs, contratempos, pontes e mais riffs, além de solos capazes de introduzir o ouvinte ao sacrifício sumário, desabando prédios, desintegrando porta-aviões e encouraçados! Não à toa dizem que tudo que é bom dura pouco, ou quase tudo. E em se tratando de Death Metal, porém, costuma ser assim.

Enfim, chega a parte ruim do disco: a última. Nem parece que já tocaram todas as músicas e você, caro leitor, perceberá que o tempo passou depressa mesmo com toda atenção em cada acorde, em cada harmônico, dissonância e equilíbrio de cada instrumento, cada virada de bateria e tremular do baixo. Eis que “Epitaph of the Credulous” dá as caras e segue com o linchamento de acéfalos pelo planeta afora. Com pura agressividade, técnica, feeling e mente aberta para inserir vários ingredientes dentro de um contexto musical sem descaracterizar seu trabalho, o Suffocation nos entrega uma verdadeira pepita digna de aplausos de quem é adepto da vertente e surpresa por quem não é, ou não consome nada do estilo. Ouça sem moderação alguma!

Nota:  9,1

Formação:

Frank Mullen (vocal)
Terrance Hobbs (guitarra)
Charles Errigo (guitarra)
Derek Boyer (baixo)
Eric Morotti (bateria)

Faixas:

01. Clarity Through Deprivation
02. The Warmth Within the Dark
03. Your Last Breaths
04. Return to the Abyss
05. The Violation
06. Of the Dark Light
07. Some Things Should Be Left Alone
08. Caught Between Two Worlds
09. Epitaph of the Credulous

Redigido por Stephan Giuliano

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